Há livros infelizes que
foram escritos para corroer - à mosca -
a casta paciência do cão:
o bicho não pode viajar por entre laranjas
nem subir ao céu das árvores
para sonhar mais perto do caos.
o lugar das patas não pode ser denso
e muito menos aquecido por vermes.
Que focinho? Um cheiro possível de algas e
flores ratadas, um sino quebrado.
O animal (sentado) espreita côdea
que lambe o beato fogo e o bolor.
É um artista de almas em salmoira
movido a sopas de vinho
- os pêlos altos, colados às rachas sulfurosas
do muro que foi giestas.
A barba do cão faz anos
e nesses cabelos a crescer
ficamos todos mais velhos.
em O Livro do Cão, Estoril: Edições Mic, 1ª edição, 1991, p. 11.
FERNANDO GRADE: Poeta, com vasta obra publicada, constituída por 28 títulos individuais, de onde sobressaem "O VINHO DOS MORTOS" (em 5.ª edição -- 1977-1979-1985-1986-1999), "SAUDADES DE SER ÍNDIO" e a antologia "25 ANOS DE POESIA" (1967-1987), que, saída em 1988, selecciona a essência da obra poética produzida por Grade entre 1962 e 1981, inéditos (1982-1987), retirados de livros como "SANGRIA" -- o seu livro de estreia, publicado na Colecção Poesia Verdade, Guimarães Editores, em 1962 -- , "A+2=Raiva" (Dilsar, 1970), "O Vinho dos Mortos", "Serenata ao Diabo" (1978), "Museu das Formigas" (1980) ou "Saudades de ser Í ndio" (1981), sem esquecer o livro conjunto "Três Poetas na Cidade" (1969) e o livro colectivo "DESINTEGRACIONISMO" (1965). No que se refere ao "DESINTEGRACIONISMO", que é, até agora, o último movimento da Poesia Portuguesa -- e quem diz Desintegr
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