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A mostrar mensagens de março, 2017

CRISMA DOSSIER MOI

"Era loira e com pedras e gostava do adjectivo lindo.Vinha pelos morangos acima como se fosse chuva. Os lagartos beijavam-lhe as mãos suaves - veias de cinzento mágico. E não sei de objectos pálidos nem de cisternas com asas. Os livros miam no meu sangue (ou será no teu?). No caminho que leva ao desejo, entre as cobras de musgo e os pêssegos, o meu coração viaja. Bebo-te os olhos: é esse o tema da Lua que nunca tive. A escrivã do Diabo Crisma" Fernando Grade, Escola Secundária de Odivelas, 30 de Abril de 1985, in "Não Mintas às Pedras" (Nota:as palavras lagartos , morangos , livros e pêssegos foram «fornecidas» - a pedido do Autor e seleccionadas de um lote lexical que lhe fora apresentado - por Cristina Maria Gouveia Abreu, 19 anos incompletos, do signo do Touro e natural do alfacinha S. Sebastião da Pedreira)

NEBULOSA II

"Oito vezes seguidas os teus seios floriram na galáxia menor à esquerda de quem subia sem bússula nos miolos Mas ninguém se comoveu nem bateram palmas nem o povo endoideceu. Apenas eu agradeci sorrindo por os teus seios terem florido Oito vezes seguidas na galáxia menor." Fernando Grade, in "Desintegracionismo", 1965

in "O Que é Brilhante ainda é Baço" 1998

OS SENTIMENTOS VÃO MUDANDO COMO AS ÁRVORES

"Os sentimentos vão mudando como as árvores, ou não se movesse o gosto também. Folha a folha os sentimentos passam esquecem-se uns dos outros redis rebeldes letra beijo carta certa mas curta de mais ó canais de Amsterdam. Os sentimentos descem ao fundo das cisternas deixam uma vírgula aqui, cebola espantada, acolá ficou um seio certa perna grácil o cheiro de um lençol mal atado. Tudo passa de burro (com ou sem carroça). Ciclistas velozes os sentimentos mudam-se pela tarde dentro: nenhum deles vestirá - duas vezes seguidas - a camisola amarela. Digamos sem medo: a civilização não é uma ideia alcatroada." Fernando Grade, Estoril, Agosto de 1973, in "O Vinhos dos Mortos"

O que é brilhante ainda é baço

"Entre o cão e o burro, a sala é estreita. As ruas zumbem ao anoitecer - vazias. E a luz amarela morde-nos o que ficou das ideias. Todos os mistérios estão fechados na terra. Se já gastei as palavras que me deste? Os teus beijos são meninos ou peixes fora de água. Ainda vou de barco para os bailes: o que é brilhante ainda é baço; viagem clara ao fundo dos rios onde as árvores ladram. Vagina luminosa e teatral." Fernando Grade, Cascais, 11 de Abril de 1981, in "O Que é Brilhante ainda é Baço"

Escondido e Velho

"Apagaram as luzes Brancas. Apagam sempre as luzes para que a noite caia (esfíngica) sobre as águas da cidade. Um barulho de barco a remos desliza como o ópio. Os pássaros do rio cantam os seus peixes mortos. Alguém grita um desastre para longe. Naufragaram? Os peixes apodrecem cada vez mais. Calada - a cisterna. Tingem-se de lodo as barbatanas. E não fomos. ontem, bastante europeus. Sabe-se de um mapa antigo, disfarçado de (I)arei(r)a" Fernando Grade, Estoril, 1973, in O Vinho dos Mortos

Fernando Grade

FERNANDO GRADE: Poeta, com vasta obra publicada, constituída por 28 títulos individuais, de onde sobressaem "O VINHO DOS MORTOS" (em 5.ª edição -- 1977-1979-1985-1986-1999), "SAUDADES DE SER ÍNDIO" e a antologia "25 ANOS DE POESIA" (1967-1987), que, saída em 1988, selecciona a essência da obra poética produzida por Grade entre 1962 e 1981, inéditos (1982-1987), retirados de livros como "SANGRIA" -- o seu livro de estreia, publicado na Colecção Poesia Verdade, Guimarães Editores, em 1962 -- , "A+2=Raiva" (Dilsar, 1970), "O Vinho dos Mortos", "Serenata ao Diabo" (1978), "Museu das Formigas" (1980) ou "Saudades de ser  Í ndio" (1981), sem esquecer o livro conjunto "Três  Poetas na Cidade" (1969) e o livro colectivo "DESINTEGRACIONISMO" (1965). No que se refere ao "DESINTEGRACIONISMO", que é, até agora, o último movimento da Poesia Portuguesa -- e quem diz Desintegr