O SOM E A PALHA Ouço todas as tardes em Amsterdam um martelo de plástico a destruir um muro feito de pedra rija. Música repassada de água como os bichos no meio do feno ou apenas uma romã. Gesto polaco algures nas florestas do Norte. E todas as tardes o martelo vai e vem sobre o musgo seco. A pedra, sim, está por baixo e contente, na sua felicidade de ser pedra eternamente Amsterdam – 1971 (in antologia pessoal ’25 Anos de Poesia Antologia 1962-1987’. Edições Mic – Colecção Salamnadra / 12. Estoril, 1988)
A S vezes chovia e eu estava longe de casa tinha o mar por pastor. Os outros seguem com os olhos em flecha os dançarinos que vão bailar o medo partem com uma única escova de dentes e um pão por cheirar. Será uma viagem igual a um disfarce de fuso horário ou apenas uma mancha de ferrugem a cresceer em corpo magro de rapariga. Levaram um cheiro de veludo, qualquer pulso livre para estrangular a noite, não fizeram perguntas não quiseram saber de chuva ou gardénias — Mamã quer pouco —, as túnicas ardiam, deixavam de ser eternas havia poucas viagens de sal até aos bosques. A luz nocturna em flecha mordeu-me os pulsos qual rato teórico ou luar do deserto a poisar na roupa esfarrapada. Pó de uvas ou pó das ervas? O leitor não gosta muito de tecedeiras porque há um lume sujo que cresce pelo terror acima logo de manhã no incêndio do mijo. Ou o único beijo feliz não passasse de um insecto tolo. Sem rancor ou peste, às vezes chovia e eu estava long