Vieste das praias do Norte
para deitar fogo à minha cama.
Chegaste sem gestos,
sem a lenda de todas a mais bizantina,
sem arcos de triunfo,
mas também sem tristezas.
Vi nos teus olhos o amor dos anormais
pelo incêndio,
pelas ambulâncias que retalham o nevoeiro
e talvez a carne do medo.
Depois fugiste do meu quarto em vulcão
gritando que Creta nem valia um homem
e que deixarias colados nas paredes com bolor
os treze pássaros mortos
de que falam as escrituras.
Por essa tatuagem cheiras a sangue cru,
nem mesmo no centro da cidade
a raiva vai ter bolos e cigarros.
(In antologia “800 ANOS DE POESIA PORTUGUESA” Círculo de Leitores, Lisboa, 1973)
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